Resumindo as ideias principais do texto "Nove teses sobre a infância como um fenômeno social: pro-posições", escrito por Jens Qvortrup:
Até recentemente, a exclusão
das crianças do mundo maior, ou melhor, adulto, era a abordagem comum à maioria
dos cientistas. O esforço de exclusão ajudava a proteger as crianças dos perigos
do mundo moderno; de um negativo, era um projeto ilusório e duvidoso; ilusório porque as
crianças fazem parte desse mundo amplo em muitos aspectos, duvidoso no sentido
de esconder as crianças num tipo de “limbo analítico”, o que impediu
pesquisadores e outros de atentarem às macroforças, que são da mais alta
importância, potencialmente, para as condições de vida das crianças. Todas os
eventos, grandes e pequenos, terão repercussões sobre as crianças, como parte da
sociedade, e contrapartida elas terão reivindicações a serem consideradas nas
análises de nos debates acerca de qualquer questão social maior.
O desenvolvimento econômico,
político e social durante o século XX, mudou a estrutura populacional: a
composição da família; a economia da infância na interface com família e
sociedade; a justiça distributiva em termos de equidade geral; e mesmo, os
direitos das crianças, os quais finalmente foram vistos no seu processo de
cidadania; A infância não é mais questão interna da família, nem classes
tradicionais e estratificadas, tendencialmente seculares. São necessários
macroparâmetros;
Tese 1. A infância é uma forma particular e distinta em qualquer
estrutura social e sociedade - A infância da sociedade moderna está ligada à institucionalização, há um
lugar para as crianças por serem de menor idade, em função de determinações
sociais. Este lugares onde a infâncias tem sido colocadas, dentro da
arquitetura social dos adultos, possibilitam o acompanhamento do
desenvolvimento histórico da infância, comparações culturais e sociais.
Tese 2. A infância não é uma fase de transição, mas uma
categoria social permanente, do ponto de vista sociológico – A criança se desenvolve por certo número de fases, até que
atinja a maturidade. No entanto, a concepção de socialização no sentido de
desenvolvimento, é pouco fecunda no argumento sociológica;
Tese 3. A ideia de criança, em si mesma, é problemática,
enquanto a infância é uma categoria variável histórica e intercultural – advoga que a criança é a-histórica, separada da sociedade em
que vive. São as mudanças de concepção que são objeto de interesse sociológico,
porque presumivelmente refletem mudanças de atitude em relação às crianças;
Tese 4. Infância é uma da parte integrante da sociedade e da sua
divisão de trabalho – crianças influenciam e são
influenciadas pelos pais, professores, pelo mundo social e econômico. A infância
interage estruturalmente com outros
setores da sociedade. Na escola, estas crianças desempenham trabalhos escolares, o qual está ligado
mercado de trabalho. Além disso, as crianças, baseadas em seu consumo,
reivindicam recursos sociais.
Tese 5. As crianças são coconstrutoras da infância e da
sociedade -
as crianças não são inúteis e meramente receptoras. Todas as vezes que
elas as crianças interagem e se comunicam com a natureza, com a sociedade e com
outras pessoas, tanto adultos quanto pares, elas estão contribuindo para a
formação, quer da infância, quer da sociedade. As crianças são criadoras,
inventivas, porque se envolvem nem ações propositivas.
Tese 6. A infância é, em princípio, exposta (econômica e
institucionalmente) às mesmas forças sociais que os adultos, embora de modo
particular – ninguém, inclusive as crianças, pode
evitar a influência de eventos mais amplos, que ocorrem além do microcosmo próximo. As forças econômicas,
os eventos ligados ao meio ambiente, o planejamento físico, as decisões
políticas, etc. Embora haja poucas dúvidas de que os eventos sociais causem
efeitos constantes, as crianças não são consideradas. Em termos mais gerais, a
retração e a expansão do mercado de trabalho têm trambém um tremendo impacto
sobre a vida das crianças. Por exemplo, quando cresce a oferta de emprego,
cresce a institucionalização das crianças, uma necessária “readequação dso
fatos”;
Tese 7. A dependência convencionada das crianças tem
consequências para sua invisibilidade em descrições históricas e sociais, assim
como para a sua autorização às provisões de bem-estar – As crianças não são consideradas como unidades de observação
nas estatísticas, pois o Estado demanda de dados absolutamente necessários para
seu planejamento e esforços de elaboração política, portanto, se as crianças são
de responsabilidade dos pais, não há necessidade de contar as
crianças por elas mesmas.
Tese 8: Não os pais, mas a ideologia da família constitui uma
barreira contra os interesses e o bem-estar das crianças – herdamos uma ideologia de família que pode ser considerada um
anacronismo: as crianças são propriedades dos pais, sendo que a sociedade só se
interessa em interferir em casos excepcionais.
Tese 9. A infância é uma categoria minoritária clássica, objeto
de tendências tanto marginalizadoras quanto paternalizadoras – não há como categorizar a infância ou determinar sua natureza
sociológica como fenômeno social. O paternalismo é uma atitude característica,
no sentido de uma estranha combinação de amor, sentimentalismo, senso de superioridade
em relação à compreensão equivocada das capacidades infantis e à
marginalização.