A presente
entrevista ocorreu no dia 19 de junho do presente ano, na casa de minha amiga
Beatriz Hartmann, professora de Educação Física e agora, Presidente do Conselho
Escolar de nossa Escola, escolhida nas eleições que realizaram-se ainda nos
primeiros dias deste mês. Embora se trate de uma posição relativamente nova
para Bea, ela já fez parte do Conselho Escolar em outros momentos, ocupando
funções como Secretaria ou Tesoureira.
Na
sequência, passo a descrever algumas das questões que nortearam nossa conversa:
Ivonete: Um Conselho Escolar é organicamente
instituído, pautando-se na ideia da participação integral de seus membros, cuja
divisão de poder é igualitária. Entre as funções a que se destina esta entidade
colegiada, qual você destacaria em função do grau de complexidade que abarca?
Que razões justificam a sua escolha?
Beatriz: O Conselho Escolar possui basicamente cinco funções. A função
deliberativa, como o próprio nome já dá a entender, são os momentos em que nos
reunimos para conversarmos e tomarmos decisões sobre assuntos que digam
respeito à organização de nossa Escola. Quando chegamos a um denominador comum,
estamos cumprindo com a função consultiva do Conselho. Ela é solicitada pela
direção da Escola ou em alguns momentos, por alguns pais que querem saber nossa
opinião sobre determinados assuntos. Já a questão da mobilização diz respeito a
forma como nos comunicamos com os nossos pares, informamo-lhes as decisões ou
ainda, solicitamos que participem de alguma atividade que julgamos pertinente. A
questão fiscalizadora se refere ao nosso acompanhamento a gestão financeira,
pedagógica e administrativa que acontece cotidianamente na Escola e por último,
a função avaliativa, é quando nos propomos a pensar resultados obtidos em
avaliações externas ou internas que são realizadas pela Escola. Ano
retrasado, tivemos um bom resultado na
pesquisa do IDEB, mas ano passado, não fomos tão bem assim. Comentamos com a
Direção este fato. No momento, estamos aguardando 0 resultado da OBMEP.
Esperamos que, a exemplo do ano passado, nossa Escola passe para as próximas
fases classificatórias!
Agora, entre todas estas funções, eu
destacaria a questão mobilizadora como nosso calcanhar de Aquiles. Vejo isso
acontecer entre nós mesmos, professores! Alguns não conseguem separar
profissionalismo de vida pessoal e isso acaba gerando atritos. As questões em
torno das greves do ano passado, ilustram bem tudo isso”.
Ivonete: Paulo Freire nos diz que, “o momento do
diálogo é o momento em que os homens se encontram para transformar a realidade
e progredir.” Entre as premissas estabelecidas pelo Conselho até então, é
possível distinguir alguma que venha a ser o “carro-chefe” das ações
pretendidas ao longo destes dois anos de mandato?
Beatriz: “Olhando o histórico de nossa Escola, percebemos que em 2008, foi
realizada um primeira eleição de alunos que formaram o então GEAG, Grêmio
Estudantil dos Alunos da Gusmão. Posteriormente, realizaram-se novas eleições
em 2009 e desde então, não foram mais escolhidos membros para composição da
agremiação.
Conversamos com a Direção, que nos
apontou que entre as dificuldades, estava a falta de uma sede para tanto. Vemos
em nossos alunos, principalmente na epoca que ocorrem os Fóruns de nossa
Escola, muitos que se destacam pela liderança, pela iniciativa. Por este
motivo, estamos em conversação para averiguarmos se a reativação do GEAG não
seria uma alternativa interessante para fazer com que o aluno se sinta mais
integrado à vida de nossa Escola, indo além do tempo que costuma dedicar às
aulas. Penso que esta seja a maior proposta de nossa diretoria.
Ivonete: Ainda há um mito muito
grande de que quem entende de Escola é o diretor e os professores, que são eles
que sabem o que tem de ser feito, cabendo aos demais, apenas apoiá-los em suas
decisões. Agora, ocupando este lugar de Presidente, escolhida pelo voto direto,
que reflexões esta afirmação lhe provoca? Você enxerga esta postura por parte
das pessoas que compõem a nossa comunidade escolar?
Beatriz: A maioria dos pais de nossos alunos ainda é fruto desta geração e
infelizmente, isso fica claro nos momentos em que a Direção os convida para
virem a compor chapas para concorrerem aos cargos do Conselho Escolar. Para
exemplificar, basta lembrar que os representantes dos segmentos de pais e/ou
responsáveis, acabam sendo nossos colegas que tem seus filhos matriculados aqui
na Escola.
Vivemos uma epoca diferente. Hoje o sustento
familiar não é mais proveniente do trabalho de uma única pessoa, até mesmo o
conceito de “família” não e mais o mesmo!
Sendo assim, não há como exigirmos que
os representantes de nossos alunos disponibilizem tempo exclusivo para
acompanhamento das atividades escolares e por conseguinte, que possuam
condições para participação ativa das ações demandadas pelo Conselho Escolar.
Então, acaba que esta visão mitológica acaba por consolidar-se entre as
pessoas, muto por força do hábito do que necessariamente, por desconhecimento.
Ivonete: Uma das queixas recorrentes
de nossa Escola é que os responsáveis são chamados apenas para ouvirem sobre as
dificuldades ou relatos de indisciplina por parte de seus filhos ou das turmas
em que eles estão inseridos. Você considera que são possíveis ações por parte
do Conselho Escolar que possam contribuir para amenizar ou ainda, modificar
esta realidade?
Beatriz: Retornando a minha fala anterior, percebemos que a Escola acaba chamando
para si, várias responsabilidades, porque é desta forma que a contemporaneidade
se desenha. Analisando a questão enquanto professora, vejo que o “chamar os
pais” é o último recurso que possuímos enquanto instituição para resolvermos
situações desarmônicas em nosso cotidiano pedagógico.
Entretanto, há situações que isso
ocorre sob outras circunstâncias, como por exemplo, nas apresentações da Banda
Marcial ao final do ano letivo, nas comemorações do Dia da Família ou em
sábados voltados para atividades de integração, nas atividades que são
desenvolvidas pelos Fóruns Anuais. Penso que, compete-nos como representantes
do Conselho Escolar, auxiliar na divulgação e convidar aos demais membros de
nossos segmentos a prestigiarem estes momentos, ajudar na disseminação da ideia
de que a Escola também pode ser um espaço de lazer e encontro, além daquele que
normalmente lhe compete.
Ivonete:: Embora a situação
socioeconômica de nossa Escola não dê margens para preocupações com relação à
evasão escolar, é notório que os índices de repetência geram desconforto. Esta
prerrogativa configura entre as possibilidades de intervenções pensadas por
parte do Conselho Escolar?
Beatriz: Certamente. O aluno que faz parte de nossa diretoria, já na primeira
reunião que realizamos, nos relatou que alguns colegas de sua turma tem tido
dificuldades com as matérias de Matemática. Então, resolveram criar grupos de
estudos que se revezam semanalmente. Todas as quartas-feiras, os alunos se
encontram na casa de um deles, tudo combinado previamente pelo grupo de pais,
via whats app. Essa ideia tem sido válida e penso que como Conselho Escolar,
trata-se de uma alternativa que pode ser levada como sugestão para outras
famílias de nossa Escola.
Em outro momento, pensamos em criar um
grupo de alunos voluntários que se disponibilizem a vir em horário extra-classe
para auxiliar os alunos dos anos iniciais que estejam com dificuldades de
aprendizagem, como se fosse uma espécie de tutoria. Alguns pais aposentados,
também poderiam auxiliar neste processo.
Com isso tudo, quero dizer que,
alternativas de intervenções existem, mas todas precisam ser pensadas e
planejadas de forma que sejam benéficas a todos aqueles que queiram
envolver-se.
Ivonete: O Conselho Escolar, dentro
das instituições de ensino, propõem-se como a
materialização do direito à participação e compromisso entre os que
fazem parte da Escola e os que a Escola atende. Em sua opinião, é possível
verificar a veracidade desta afirmação traduzindo-se na prática cotidiana de
nossa Escola?
Beatriz: Percebo que a Direção da Escola demonstra-se sempre aberta ao diálogo
quando a procuramos. Em se tratando de mobilização, ainda temos dificuldades
porque, vez por outra, não é possível que todos os membros estejam presentes
nas reuniões.
Além de dedicação, trata-se de algo que
demanda tempo e aí, esbarramos numa outra questão que muito influencia na
qualidade das ações que nos propomos.
Entretanto, importantes passos já foram
dados na direção do reconhecimento da existência de nosso Conselho Escolar.
Beatriz Hartmann, presidente do Conselho Escolar de nossa Escola |
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