quarta-feira, 21 de junho de 2017

Entrevista realizada com a Presidente do Conselho Escolar da EMEF Professora Maria Gusmão Britto, localizada em São Leopoldo/RS

A presente entrevista ocorreu no dia 19 de junho do presente ano, na casa de minha amiga Beatriz Hartmann, professora de Educação Física e agora, Presidente do Conselho Escolar de nossa Escola, escolhida nas eleições que realizaram-se ainda nos primeiros dias deste mês. Embora se trate de uma posição relativamente nova para Bea, ela já fez parte do Conselho Escolar em outros momentos, ocupando funções como Secretaria ou Tesoureira.
Na sequência, passo a descrever algumas das questões que nortearam nossa conversa:

Ivonete: Um Conselho Escolar é organicamente instituído, pautando-se na ideia da participação integral de seus membros, cuja divisão de poder é igualitária. Entre as funções a que se destina esta entidade colegiada, qual você destacaria em função do grau de complexidade que abarca? Que razões justificam a sua escolha?

Beatriz: O Conselho Escolar possui basicamente cinco funções. A função deliberativa, como o próprio nome já dá a entender, são os momentos em que nos reunimos para conversarmos e tomarmos decisões sobre assuntos que digam respeito à organização de nossa Escola. Quando chegamos a um denominador comum, estamos cumprindo com a função consultiva do Conselho. Ela é solicitada pela direção da Escola ou em alguns momentos, por alguns pais que querem saber nossa opinião sobre determinados assuntos. Já a questão da mobilização diz respeito a forma como nos comunicamos com os nossos pares, informamo-lhes as decisões ou ainda, solicitamos que participem de alguma atividade que julgamos pertinente. A questão fiscalizadora se refere ao nosso acompanhamento a gestão financeira, pedagógica e administrativa que acontece cotidianamente na Escola e por último, a função avaliativa, é quando nos propomos a pensar resultados obtidos em avaliações externas ou internas que são realizadas pela Escola. Ano retrasado,  tivemos um bom resultado na pesquisa do IDEB, mas ano passado, não fomos tão bem assim. Comentamos com a Direção este fato. No momento, estamos aguardando 0 resultado da OBMEP. Esperamos que, a exemplo do ano passado, nossa Escola passe para as próximas fases classificatórias!
Agora, entre todas estas funções, eu destacaria a questão mobilizadora como nosso calcanhar de Aquiles. Vejo isso acontecer entre nós mesmos, professores! Alguns não conseguem separar profissionalismo de vida pessoal e isso acaba gerando atritos. As questões em torno das greves do ano passado, ilustram bem tudo isso”.

Ivonete: Paulo Freire nos diz que, “o momento do diálogo é o momento em que os homens se encontram para transformar a realidade e progredir.” Entre as premissas estabelecidas pelo Conselho até então, é possível distinguir alguma que venha a ser o “carro-chefe” das ações pretendidas ao longo destes dois anos de mandato?

Beatriz: “Olhando o histórico de nossa Escola, percebemos que em 2008, foi realizada um primeira eleição de alunos que formaram o então GEAG, Grêmio Estudantil dos Alunos da Gusmão. Posteriormente, realizaram-se novas eleições em 2009 e desde então, não foram mais escolhidos membros para composição da agremiação.
Conversamos com a Direção, que nos apontou que entre as dificuldades, estava a falta de uma sede para tanto. Vemos em nossos alunos, principalmente na epoca que ocorrem os Fóruns de nossa Escola, muitos que se destacam pela liderança, pela iniciativa. Por este motivo, estamos em conversação para averiguarmos se a reativação do GEAG não seria uma alternativa interessante para fazer com que o aluno se sinta mais integrado à vida de nossa Escola, indo além do tempo que costuma dedicar às aulas. Penso que esta seja a maior proposta de nossa diretoria.

 Ivonete: Ainda há um mito muito grande de que quem entende de Escola é o diretor e os professores, que são eles que sabem o que tem de ser feito, cabendo aos demais, apenas apoiá-los em suas decisões. Agora, ocupando este lugar de Presidente, escolhida pelo voto direto, que reflexões esta afirmação lhe provoca? Você enxerga esta postura por parte das pessoas que compõem a nossa comunidade escolar?

Beatriz: A maioria dos pais de nossos alunos ainda é fruto desta geração e infelizmente, isso fica claro nos momentos em que a Direção os convida para virem a compor chapas para concorrerem aos cargos do Conselho Escolar. Para exemplificar, basta lembrar que os representantes dos segmentos de pais e/ou responsáveis, acabam sendo nossos colegas que tem seus filhos matriculados aqui na Escola.
 Vivemos uma epoca diferente. Hoje o sustento familiar não é mais proveniente do trabalho de uma única pessoa, até mesmo o conceito de “família” não e mais o mesmo!
Sendo assim, não há como exigirmos que os representantes de nossos alunos disponibilizem tempo exclusivo para acompanhamento das atividades escolares e por conseguinte, que possuam condições para participação ativa das ações demandadas pelo Conselho Escolar. Então, acaba que esta visão mitológica acaba por consolidar-se entre as pessoas, muto por força do hábito do que necessariamente, por desconhecimento.

 Ivonete: Uma das queixas recorrentes de nossa Escola é que os responsáveis são chamados apenas para ouvirem sobre as dificuldades ou relatos de indisciplina por parte de seus filhos ou das turmas em que eles estão inseridos. Você considera que são possíveis ações por parte do Conselho Escolar que possam contribuir para amenizar ou ainda, modificar esta realidade?

Beatriz: Retornando a minha fala anterior, percebemos que a Escola acaba chamando para si, várias responsabilidades, porque é desta forma que a contemporaneidade se desenha. Analisando a questão enquanto professora, vejo que o “chamar os pais” é o último recurso que possuímos enquanto instituição para resolvermos situações desarmônicas em nosso cotidiano pedagógico.
Entretanto, há situações que isso ocorre sob outras circunstâncias, como por exemplo, nas apresentações da Banda Marcial ao final do ano letivo, nas comemorações do Dia da Família ou em sábados voltados para atividades de integração, nas atividades que são desenvolvidas pelos Fóruns Anuais. Penso que, compete-nos como representantes do Conselho Escolar, auxiliar na divulgação e convidar aos demais membros de nossos segmentos a prestigiarem estes momentos, ajudar na disseminação da ideia de que a Escola também pode ser um espaço de lazer e encontro, além daquele que normalmente lhe compete.

Ivonete:: Embora a situação socioeconômica de nossa Escola não dê margens para preocupações com relação à evasão escolar, é notório que os índices de repetência geram desconforto. Esta prerrogativa configura entre as possibilidades de intervenções pensadas por parte do Conselho Escolar?

Beatriz: Certamente. O aluno que faz parte de nossa diretoria, já na primeira reunião que realizamos, nos relatou que alguns colegas de sua turma tem tido dificuldades com as matérias de Matemática. Então, resolveram criar grupos de estudos que se revezam semanalmente. Todas as quartas-feiras, os alunos se encontram na casa de um deles, tudo combinado previamente pelo grupo de pais, via whats app. Essa ideia tem sido válida e penso que como Conselho Escolar, trata-se de uma alternativa que pode ser levada como sugestão para outras famílias de nossa Escola.
Em outro momento, pensamos em criar um grupo de alunos voluntários que se disponibilizem a vir em horário extra-classe para auxiliar os alunos dos anos iniciais que estejam com dificuldades de aprendizagem, como se fosse uma espécie de tutoria. Alguns pais aposentados, também poderiam auxiliar neste processo.
Com isso tudo, quero dizer que, alternativas de intervenções existem, mas todas precisam ser pensadas e planejadas de forma que sejam benéficas a todos aqueles que queiram envolver-se.

Ivonete: O Conselho Escolar, dentro das instituições de ensino, propõem-se como a  materialização do direito à participação e compromisso entre os que fazem parte da Escola e os que a Escola atende. Em sua opinião, é possível verificar a veracidade desta afirmação traduzindo-se na prática cotidiana de nossa Escola?

Beatriz: Percebo que a Direção da Escola demonstra-se sempre aberta ao diálogo quando a procuramos. Em se tratando de mobilização, ainda temos dificuldades porque, vez por outra, não é possível que todos os membros estejam presentes nas reuniões.
Além de dedicação, trata-se de algo que demanda tempo e aí, esbarramos numa outra questão que muito influencia na qualidade das ações que nos propomos.
Entretanto, importantes passos já foram dados na direção do reconhecimento da existência de nosso Conselho Escolar. 



Beatriz Hartmann,  presidente do Conselho Escolar de nossa Escola

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