"Se a afirmação do ser humano é uma afirmação política, veja que aqui, o político não se identifica com o senso comum, político partidário, uma política de nós contra os outros. Estamos falando de política no sentido de convivência entre os sujeitos. Esta convivência com outros sujeitos pode acontecer de forma autoritária e ela pode ser de uma forma democrática.
A democracia então é muito além do que ter eleições, é muito mais do que simplesmente a voz do povo. É tudo isso, mas ela, em essência, como fundamento de princípio, envolve a convivência entre os sujeitos que se afirmam como tais. Então, veja, esta base, já nos dá condições para examinar com rigor tudo aquilo que diz respeito ao funcionamento dos órgãos coletivos, das instâncias coletivas porque a educação só se faz se ela for democrática. Se a criança só aprende se quiser, a primeira coisa que você tem que fazer é propiciar condições para que ela queira, se não, não adianta, não tem educação!
Propiciar condições para que ela queira é uma condição dialógica, democrática, por isso arriscada: você não tem certeza de que ela vai querer. Você tem de correr o risco de ela não querer.
Esta é a noção da democracia que as pessoas as vezes não entendem.
Por isso, o papel da Escola não é levar conhecimento simplesmente, ou mesmo, levar cultura. O papel principal da Escola é propiciar condições para que o aluno aprenda e claro, apresentando a cultura para que o aluno se aproprie dela.
Se este é o fundamento da Escola, como pode ser o fundamento das ações coletivas da Escola?
Primeiro, não podemos esquecer nunca: o mais importante da democracia na Escola não se faz nestes colegiado, não se faz na relação do professor com o diretor. O mais importante, aquilo que deve orientar tudo, senão não adianta administração nenhuma, é uma relação entre o educador, o educando, que precisa necessariamente ser uma relação de respeito à subjetividade do aluno e o aluno como sujeito, respeitando a subjetividade do professor. Isso é o que fundamenta!
Para que isso se fundamente, nós precisamos de uma série de atividades, uma série de disposições dentro da Escola. Uma delas, é que exista a participação de todos os envolvidos, porque nós estamos falando de democracia, nós estamos falando de direito a apropriação da cultura.
Então, o Conselho de Escola, o Conselho de Classe, as Reuniões de Pais, as Associações de Pais e Mestres, precisam se pautar em relações que não sejam incompatíveis com estas. Então não dá para pensar que você está numa instituição cujo paradigma é a democracia para que a criança se aproprie livremente do saber, você não pode, por exemplo, pautar as outras atividades dos professores, dos funcionários e de pais por relações que neguem isso.
O primeiro aspecto que determina o bom ou o mau funcionamento dos colegiados, ou melhor ainda, das instâncias coletivas de participação, é saber qual o objetivo da Escola."
(Vitor Paro - Professor Titular da Faculdade de Educação da USP)
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