Na última semana, em nosso encontro presencial no PEAD, fizemos nossa apresentação, com PPT de nosso projeto de aprendizagem, para a interdisciplina de Projeto Pedagógico em Ação.
Assim, reunimos um pouco de nossas experiências, considerando que somos quatro alunas neste grupo, com diferentes realidades, inclusive no que se refere às faixas etárias de nossos estudantes, completamente distintas.
O projeto, na verdade, começou com nossas próprias dúvidas a respeito de como iríamos operacionalizá-lo de forma que contemplasse comum a todas e ainda, como traríamos isso a nossos alunos, etc. Foi necessário que fossem estabelecidas perguntas que nos guiaram na mobilização e execução de nosso projeto de forma bastante integrada e cooperativa.
Foi bastante gratificante pois também aprendemos muito com essa troca.
Algo que julgamos importante foi a metodologia de apresentação trazida pela Professora, estabelecendo que apenas uma integrante fosse interlocutora do grupo. Ao nosso ver, isso potencializou a ideia de coletividade que foi balizadora de nossas atividades, além de agregar positivamente na questão da otimização do tempo. A utilização do arquivo em PPT também facilitou a recordação de nossas ideias constituídas até então, funcionando como excelente recurso imagético.
Algumas vezes, tivemos dúvidas se o que estávamos construindo era um Projeto de Aprendizagem ou um Projeto de Aprendizagem, já que características de ambos, iam mesclando-se à construção de nossas atividades.
Contudo, ao final, dada às construções que fizemos, priorizando o protagonismo de nossos alunos ao realizarem as atividades, fomos nos dando por conta que estávamos no caminho certo e por isso, julgamos tão positivos os resultados de nossa apresentação.
Todas as abordagens partem de um quadro de conceitos, que devem ser abordados na realização da redação. Estes conceitos devem aparecem incrustrados no transcorrer das abordagens.
Pode se pensar uma situação complexa para cada abordagem ou uma única que abarcará as três. As cenas escolares, as histórinhas, deverão ser sustentados por estes conceitos do quadro.
Para apoiar a análise, registrar evidências, a partir de referenciamento teórico. Estas evidências podem ser buscadas no desenvolvimento das atividades que forem sendo propostas pelas atividades.
O contexto da Escola precisa ser priorizado, utilizando os conceitos que são trazidos pelas abordagens. Essa complexidade conceitual é o propósito que busca a elaboração de um síntese mais densa.
A ideia é que o texto seja no máximo de 3 páginas para cada abordagem.
Todos os conceitos devem aparecer, podendo haverem repetições.
A organização do texto precisa levar em consideração as abordagens, inclusive entitulando-as de igual forma, independente da organização sequencial das mesmas.
Ao produzir o texto, uma opção é deixar os conceitos escritos de forma negritada ou escritos de forma itálica.
A autoria é um aspecto relevante, mas precisa ser pensada de forma referenciada.
As interdisciplinas serão apenas pontos de fundo, não são prioridades para apresentações. A ideia agora é priorizar as abordagens sugeridas.São 10 minutos de apresentação, que devem ser aproveitados
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Momento 3 - Fechamento das Análises dos Portfólios
A presente
entrevista ocorreu no dia 19 de junho do presente ano, na casa de minha amiga
Beatriz Hartmann, professora de Educação Física e agora, Presidente do Conselho
Escolar de nossa Escola, escolhida nas eleições que realizaram-se ainda nos
primeiros dias deste mês. Embora se trate de uma posição relativamente nova
para Bea, ela já fez parte do Conselho Escolar em outros momentos, ocupando
funções como Secretaria ou Tesoureira.
Na
sequência, passo a descrever algumas das questões que nortearam nossa conversa:
Ivonete: Um Conselho Escolar é organicamente
instituído, pautando-se na ideia da participação integral de seus membros, cuja
divisão de poder é igualitária. Entre as funções a que se destina esta entidade
colegiada, qual você destacaria em função do grau de complexidade que abarca?
Que razões justificam a sua escolha?
Beatriz: O Conselho Escolar possui basicamente cinco funções. A função
deliberativa, como o próprio nome já dá a entender, são os momentos em que nos
reunimos para conversarmos e tomarmos decisões sobre assuntos que digam
respeito à organização de nossa Escola. Quando chegamos a um denominador comum,
estamos cumprindo com a função consultiva do Conselho. Ela é solicitada pela
direção da Escola ou em alguns momentos, por alguns pais que querem saber nossa
opinião sobre determinados assuntos. Já a questão da mobilização diz respeito a
forma como nos comunicamos com os nossos pares, informamo-lhes as decisões ou
ainda, solicitamos que participem de alguma atividade que julgamos pertinente. A
questão fiscalizadora se refere ao nosso acompanhamento a gestão financeira,
pedagógica e administrativa que acontece cotidianamente na Escola e por último,
a função avaliativa, é quando nos propomos a pensar resultados obtidos em
avaliações externas ou internas que são realizadas pela Escola. Ano
retrasado, tivemos um bom resultado na
pesquisa do IDEB, mas ano passado, não fomos tão bem assim. Comentamos com a
Direção este fato. No momento, estamos aguardando 0 resultado da OBMEP.
Esperamos que, a exemplo do ano passado, nossa Escola passe para as próximas
fases classificatórias!
Agora, entre todas estas funções, eu
destacaria a questão mobilizadora como nosso calcanhar de Aquiles. Vejo isso
acontecer entre nós mesmos, professores! Alguns não conseguem separar
profissionalismo de vida pessoal e isso acaba gerando atritos. As questões em
torno das greves do ano passado, ilustram bem tudo isso”.
Ivonete:Paulo Freire nos diz que, “o momento do
diálogo é o momento em que os homens se encontram para transformar a realidade
e progredir.” Entre as premissas estabelecidas pelo Conselho até então, é
possível distinguir alguma que venha a ser o “carro-chefe” das ações
pretendidas ao longo destes dois anos de mandato?
Beatriz: “Olhando o histórico de nossa Escola, percebemos que em 2008, foi
realizada um primeira eleição de alunos que formaram o então GEAG, Grêmio
Estudantil dos Alunos da Gusmão. Posteriormente, realizaram-se novas eleições
em 2009 e desde então, não foram mais escolhidos membros para composição da
agremiação.
Conversamos com a Direção, que nos
apontou que entre as dificuldades, estava a falta de uma sede para tanto. Vemos
em nossos alunos, principalmente na epoca que ocorrem os Fóruns de nossa
Escola, muitos que se destacam pela liderança, pela iniciativa. Por este
motivo, estamos em conversação para averiguarmos se a reativação do GEAG não
seria uma alternativa interessante para fazer com que o aluno se sinta mais
integrado à vida de nossa Escola, indo além do tempo que costuma dedicar às
aulas. Penso que esta seja a maior proposta de nossa diretoria.
Ivonete:Ainda há um mito muito
grande de que quem entende de Escola é o diretor e os professores, que são eles
que sabem o que tem de ser feito, cabendo aos demais, apenas apoiá-los em suas
decisões. Agora, ocupando este lugar de Presidente, escolhida pelo voto direto,
que reflexões esta afirmação lhe provoca? Você enxerga esta postura por parte
das pessoas que compõem a nossa comunidade escolar?
Beatriz: A maioria dos pais de nossos alunos ainda é fruto desta geração e
infelizmente, isso fica claro nos momentos em que a Direção os convida para
virem a compor chapas para concorrerem aos cargos do Conselho Escolar. Para
exemplificar, basta lembrar que os representantes dos segmentos de pais e/ou
responsáveis, acabam sendo nossos colegas que tem seus filhos matriculados aqui
na Escola.
Vivemos uma epoca diferente. Hoje o sustento
familiar não é mais proveniente do trabalho de uma única pessoa, até mesmo o
conceito de “família” não e mais o mesmo!
Sendo assim, não há como exigirmos que
os representantes de nossos alunos disponibilizem tempo exclusivo para
acompanhamento das atividades escolares e por conseguinte, que possuam
condições para participação ativa das ações demandadas pelo Conselho Escolar.
Então, acaba que esta visão mitológica acaba por consolidar-se entre as
pessoas, muto por força do hábito do que necessariamente, por desconhecimento.
Ivonete:Uma das queixas recorrentes
de nossa Escola é que os responsáveis são chamados apenas para ouvirem sobre as
dificuldades ou relatos de indisciplina por parte de seus filhos ou das turmas
em que eles estão inseridos. Você considera que são possíveis ações por parte
do Conselho Escolar que possam contribuir para amenizar ou ainda, modificar
esta realidade?
Beatriz: Retornando a minha fala anterior, percebemos que a Escola acaba chamando
para si, várias responsabilidades, porque é desta forma que a contemporaneidade
se desenha. Analisando a questão enquanto professora, vejo que o “chamar os
pais” é o último recurso que possuímos enquanto instituição para resolvermos
situações desarmônicas em nosso cotidiano pedagógico.
Entretanto, há situações que isso
ocorre sob outras circunstâncias, como por exemplo, nas apresentações da Banda
Marcial ao final do ano letivo, nas comemorações do Dia da Família ou em
sábados voltados para atividades de integração, nas atividades que são
desenvolvidas pelos Fóruns Anuais. Penso que, compete-nos como representantes
do Conselho Escolar, auxiliar na divulgação e convidar aos demais membros de
nossos segmentos a prestigiarem estes momentos, ajudar na disseminação da ideia
de que a Escola também pode ser um espaço de lazer e encontro, além daquele que
normalmente lhe compete.
Ivonete:: Embora a situação
socioeconômica de nossa Escola não dê margens para preocupações com relação à
evasão escolar, é notório que os índices de repetência geram desconforto. Esta
prerrogativa configura entre as possibilidades de intervenções pensadas por
parte do Conselho Escolar?
Beatriz: Certamente. O aluno que faz parte de nossa diretoria, já na primeira
reunião que realizamos, nos relatou que alguns colegas de sua turma tem tido
dificuldades com as matérias de Matemática. Então, resolveram criar grupos de
estudos que se revezam semanalmente. Todas as quartas-feiras, os alunos se
encontram na casa de um deles, tudo combinado previamente pelo grupo de pais,
via whats app. Essa ideia tem sido válida e penso que como Conselho Escolar,
trata-se de uma alternativa que pode ser levada como sugestão para outras
famílias de nossa Escola.
Em outro momento, pensamos em criar um
grupo de alunos voluntários que se disponibilizem a vir em horário extra-classe
para auxiliar os alunos dos anos iniciais que estejam com dificuldades de
aprendizagem, como se fosse uma espécie de tutoria. Alguns pais aposentados,
também poderiam auxiliar neste processo.
Com isso tudo, quero dizer que,
alternativas de intervenções existem, mas todas precisam ser pensadas e
planejadas de forma que sejam benéficas a todos aqueles que queiram
envolver-se.
Ivonete:O Conselho Escolar, dentro
das instituições de ensino, propõem-se como a
materialização do direito à participação e compromisso entre os que
fazem parte da Escola e os que a Escola atende. Em sua opinião, é possível
verificar a veracidade desta afirmação traduzindo-se na prática cotidiana de
nossa Escola?
Beatriz: Percebo que a Direção da Escola demonstra-se sempre aberta ao diálogo
quando a procuramos. Em se tratando de mobilização, ainda temos dificuldades
porque, vez por outra, não é possível que todos os membros estejam presentes
nas reuniões.
Além de dedicação, trata-se de algo que
demanda tempo e aí, esbarramos numa outra questão que muito influencia na
qualidade das ações que nos propomos.
Entretanto, importantes passos já foram
dados na direção do reconhecimento da existência de nosso Conselho Escolar.
Beatriz Hartmann, presidente do Conselho Escolar de nossa Escola
Os fatores
intraescolares denominam os processos e práticas escolares que influenciam
de forma determinante o sucesso do processo de ensino e aprendizagem em uma
instituição. Entre os fatores associados à esta questão destacam-se a gestão
escolar (que deve ser objetiva mas com um abordagem participativa pois esta
cooperação entre os membros da comunidade escolar, além do estabelecimento de
objetivos comuns), a relação entre professor e aluno (haja vista a importância
que esta exerce para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem). Já os fatores extraescolares se referem aos
aspectos sociodemográficos e econômicos, os quais influenciam no destino
educacional da Escola.
Em se tratando de minha Escola, prioriza-se a criação
de expectativas positivas em relação aos alunos, verbalizados sob a forma de
incentivos, pois acredita-se serem fatores que influenciam na qualificação
deste processo, que devem atuar, aliados a ambientes escolares que ofereçam
boas condições de trabalho.
Neste sentido, os recursos enviados pelo PDDE – Programa Dinheiro Direto na
Escola, tem prestado importantes contribuições em minha Escola, pois os
ambientes são mantidos com boa qualidade, há um cuidado estético com decoração
de espaços com enfoques na aprendizagem acadêmica que venham de encontro ao
Projeto Político Pedagógico.
Todas as nossas salas de aula possuem mesas e
cadeiras em boas condições de uso, iluminação de boa qualidade. Elas são
organizadas segundo componentes curriculares, sendo que cada disciplina, possui
materiais didáticos específicos, que ficam ao alcance de cada turma e professor,
podendo ser utilizá-los didaticamente segundo planejamento.
Falar em qualidade da
Educação necessita que sejam levados em consideração aspectos objetivos, que
articulem quantidade e qualidade. Estruturalmente, nosso país construiu-se
sobre desigualdades e estas assimetrias também refletiram-se no sistema de
ensino e portanto, discutí-lo, tem implicação nestas questões mais amplas.
Nossa Escola é vista
como um ambiente pedagógico por excelência, justificadas nas objetividades que são expressas em seu
Projeto Pedagógico. Ali, é possível constatar uma visão estruturada da relação homem,
mundo e sociedade. Condições de acesso e permanência, de valorização salarial,
constituição de espaços continuamente participativos são alguns dos assuntos
que permeiam às discussões que tecemos, justamente com vias à priorizar a
qualidade da educação que queremos. Aquilo que é estabelecido, mostra-se sempre
passível de questionamentos, pois é importante que o transitório receba o
devido tratamento que a atualidade exige.
Nós da Educação, sobre a construção do
Projeto Político Pedagógico
Entrevista com Ilma Passos Alencastro Veiga (Pós-Doutora
em Educação pela Universidade Estadual de Campinas)
A
literatura sobre o Projeto Político Pedagógico só começou a surgir com mais
ênfase após apromulgação da LDB, em 1996. O PPP nada mais é que um processo de
tomada de decisões democráticas. É um movimento que deve ser participativo, um
movimento coletivo. O projeto, ao mesmo tempo que constrói este movimento, dá a
ideia de que deve ser vivenciado por professores, alunos, funcionários da
Escola, representantes da Comunidade Escolar: todos participam da concepção,
todos executam e todos avaliam.
Na
história da Educação, a própria palavra não vem da Educação. Somente com a LDB
é que a palavra Projeto é assumida pela educação, passando a falar-se m Projeto
Político Pedagógico. O Político denota a influência de Paulo Freire. O ato
pedagógico está interligado ao político e vice-versa.
O
PPP pode ser concebido dentro de duas perspectivas: numa perspectiva técnica é
mais um modismo. Surge por força de lei e vira um modismo. Acabou o modismo,
todo mundo esquece. Se o PPP chega dentro de uma perspectiva técnica,
burocrática e de uma visão de educação mais conservadora, hoje, ele está se
tornando indispensável. E numa perspectiva mais edificante, o PPP é
emancipador, está calcado num princípio de educação enquanto prática social e
que emancipa o homem. Tem um compromisso com os princípios ou com as
finalidades da educação brasileira, expressas hoje no artigo segundo da LDBEN que diz que é o
pleno desenvolvimento do aluno, o preparo para a cidadania e o exercício para o
trabalho. Então, PESSOA, CIDADANIA E TRABALHO é o compromisso maior que o PPP
deve ter. Há um compromisso com a qualidade formal e com a qualidade política.
A qualidade formal é no sentido de garantir às escolas as estruturas, as
condições físicas, administrativas e de equipamentos para o funcionamento e a
qualidade da educação. Do ponto de vista político, o compromisso do PPP é com a
qualidade da educação para todos, sabendo que os governos tem tido um esforço
muito grande para democratizar o acesso à Escola, mas ainda não conseguimos a
questão da qualidade da educação e muito menos, a questão da permanência. Ainda
temos uma grande defasagem idade/série, temos ainda muita repetência e muita
evasão.
Esse
compromisso do poder público com relação à qualidade política é um compromisso
que vem sendo perseguido pelos diferentes governos do país.
Como o PPP pode colaborar
para a qualidade na Escola?
O
PPP, sendo trabalhado no bojo de uma concepção democrática e emancipatória e a
própria legislação brasileira coloca bem claramente que a gestão democrática se
dá através de diferentes mecanismos colegiadas dentro da Escola e o primeiro
que ele coloca é a questão da eleição do diretor, mas não fica só por aí.
Também temos outros mecanismos que a própria LDBEN coloca que é a questão do
conselho escolar, o Conselho de Classe, as APMS, os grêmios estudantis para que
o aluno tenha um espaço para além da sala de aula para o desenvolvimento de
lideranças. O Brasil é um país sem liderança. A nossa liderança é hereditária e
com isso perdemos o espaço para criação de lideranças quando você fecha o
Grêmio Estudantil. Qualidade está ligada a uma participação maior da
comunidade.
Qual a diferença entre um
PPP de uma escola pública para o de uma escola privada?
Uma
é regida pela própria mantenedora e que
tem a sua autonomia para definir estratégias de desenvolvimento e de elaboração
do projeto. E temos a Escola pública,
regida pelo Poder Público, com sistema de manutenção diferente. Quando a LDB
coloca a questão da Gestão Democrática, refere-se ao ensino público. Todavia,
ao passo que o PPP passa a agregar as pessoas, faz com que as instituições
tenham força. Se eu elaboro, executo e avalio, eu também sou dona deste
projeto. Ali passa a conter parte da minha trajetória, das minhas
argumentações, ideias e a gente defende as ideias.
Quais são os objetivos do
PPP?
O
projeto tem alguns objetivos: Ele tem que gerar a identidade da Escola e daí a
sua singularidade. Cada escola possui uma realidade, um alunado, uma
arquitetura diferente. O segundo ponto importante é que a Escola tem que
inovar, gerar um novo tipo de ensino para a produção de conhecimento,
considerando o aluno como produtor deste conhecimento. A Escola se abre para
dar voz para o aluno e este é o ponto de partida para a inovação das
metodologias. O professor precisa considerar que o aluno possui uma trajetória
de vida.
Um
terceiro aspecto é que o PPP tem o poder de desvenlar os conflitos e
contradições que permeiam o processo educativo que ocorre dentro da Escola. O aluno,
realiza a leitura de mundo, entendendo o que se passa na realidade social e que
interfere no seu processo de formação.
E finalmente, o objetivo de avaliação. Hoje,
recebemos uma avaliação externa, feita por órgãos externos à Escola. A Escola
tem de desenvolver esta capacidade de se avaliar, seja suas condições de
trabalho, seu processo, as ações pedagógicas desenvolvidas. No meu ponto de
vista, são quatro grande objetivos seriam: identificação, inovação, avaliação e
politização.
De
que forma a LDB institui o PPP?
A legislação em seus artigos 11, 12 e 13
trata sobre o Projeto, que deve ser feito pelos estabelecimentos de ensino,
seja sob a forma de Projeto ou de Proposta Pedagógica, não havendo diferenças
entre ambas as designações. Ao falar sobre a incumbência dos profissionais da
educação, chama a atenção para a importância de que o PPP seja construído sob a
ótica da participação e isso é um avanço. Mais a frente, nos artigos 14 e 15,
fala sobre a Gestão Democrática, fortalecendo ainda mais o princípio da
participação e estabelece os princípios da autonomia da Escola: autonomia
financeira, pedagógia e administrativa. Aí, reside o grande diferencial entre a
Escola Pública e a Escola Privada. Enquanto a Escola Pública tem uma autonomia
pequena do ponto de vista financeiro porque ela tem uma manutenção por parte do
governo. Em se tratando de sua autonomia pedagógia e administrativa, é um
processo de construção.
Burocracia
x Operacionalização: como se dá esta relação no PPP?
Trata-se de uma relação complicada
porque o PPP começa com a leitura da prática da Escola, ou seja, começa fazendo
um retrato da Escola. Exatamente quando eu levanto os problemas (pedagógicos,
administrativos, burocráticos, financeiros, problemas com relação ao
desenvolvimento de pessoal, de professores) que a Escola encontra no seu
processo de desenvolvimento da Educação, evidentemente que é necessário
estabelecer prioridades, já que a Escola não vai dar conta de resolver todos os
problemas, já que alguns fogem da esfera de resolução da própria Escola. Definindo
prioridades, eu estabeleço obstáculos, forças restritivas que tem dificultado o
desempenho de qualidade da Escola. Então aí, entre a tomada de decisões e a
operacionalização, é preciso prever encaminhamentos para reduzir estes espaços
de encaminhamentos que reduzam estes sofrimentos, conflitos e tensões.
Quais
são os elementos que precisam ser observados na organização, no desenvolvimento
e na avaliação de um PPP?
Estabelecer
as finalidades - É preciso desenvolver o
aluno em sua integralidade, sua cidadania e qualificação para o trabalho.
Então, a Escola deve se perguntar quais são as formas pelas quais tem procurado
atingir estas finalidades da LDB.
Avaliar
é a questão do currículo - o início da
década de 90, tivemos um currículo definido em âmbito nacional, os chamados
Parâmetros Curriculares Nacionais sem considerar as questões das
especificidades regionais. Como a Escola organiza curricularmente os conhecimentos,
a partir do artigo 26 da LDB, estruturado disciplinarmente. O Estado define políticas
orientadoras, não políticas definidoras de ações, mas quem concebe a forma como estas serão empregadas no
cotidiano é o professor que está em sala de aula, que vivencia a realidade da
escola onde atua. Traz o tom da prática, o tom da realidade mesclada à teoria.
A
gestão administrativa e pedagógica da Escola.
O
tempo escolar - regulamentado em 800 horas letivas, um tempo cronometrado para as
salas de aula.
As
relações de trabalho – que devem ser primadas na solidariedade, na
co-participação
A
avaliação - vinculada a auto-avaliação, que partem da própria Escola.
O
PPP ajuda a compreender a educação regionalizada?
Sim, porque uma das características do
PPP é exatamente a identificação da
Escola e o que buscamos nesta ideia, é que a Escola mostre a sua marca,
sua cara, suas singularidades, sua vocação, a forma como trabalha com os
alunados daquela região em que se insere. Desta forma, o projeto é inconcluso e
ondicionado à formação continuada de professores, significa que constantemente,
precisamos estar constantemente o revisitando.
Como
se relacionam as dimensões técnicas, políticas e sócioculturais quando o
assunto é PPP?
A
parte técnica do Projeto, (a sua organização, elaboração, avaliação, ou seja, o
conteúdo do projeto), parte política
(compromisso com a intencionalidade que deve estar diretamente ligada ao
desenvolvimento pleno do aluno, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho: sujeito,
pessoa, educando e trabalhador: aí reside o compromisso do PPP com esta
intencionalidade) e a questão do social é considerar que a Escola pública
atende hoje uma parcela da população que até então não tinha acesso à Escola.
Há uma diversidade cultural muito grande adentrando à Escola.
No
entanto, no caso da violência por exemplo: não compete à Escola a resolução
deste problema. Ela precisa de parcerias, mecanismos para atendimento destas
questões que extrapolam a sua capacidade de intervenção direta. A Escola tem
uma parcela de responsabilidade quanto às questões sociais, mas há um limite. É
papel da Escola trabalhar as questões que preocupam a sociedade como
drogadição, sexualidade precoce, violência, etc., mas não compete a ela
resolver estes problemas, apenas prestar esclarecimentos. Para isso, existem
outros setores públicos que devem andar em parceria com a Escola para resolver
questões desta natureza.
O
professor passou a assumir papel que não lhe compete, a sociedade joga nas
costas da Escola doses de responsabilidade que muitas vezes não lhe competem!
Aí entra o PPP, que no campo das operacionalizações, uma vez que levantadas
estas questões problemáticas, deve estabelecer quais os órgãos que lançarão
esforços para auxiliar na resolução destas questões.
O PPP atua como uma forma de
reconstituição do campo do poder dentro das Escolas? Como se dá este processo?
A
gestão autoritária, centrada na pessoa do diretor, que antecedia a Gestão Democrática,
foi substituído por ideias de instâncias colegiadas para operacionalizar os
mecanismos da gestão democrática. Entre estes mecanismos, o primeiro que
aparece é a eleição para diretor, além disso temos a formação de Conselhos
Escolares. Quando a Escola utiliza bem a ideia de conselho escolar, há um
empoderamento de todos os participantes. O resgate dos Grêmios Estudantis
também é um espaço para que o aluno tenha voz para além da sala de aula, para a
criação de novas lideranças além daquela hereditária. Os Conselhos de Classe e
as Associações de Pais e Mestres também são formas de melhor distribuir o poder
dentro das Escolas.
Como se dão as relações entre as
instituições educativas no contexto social?
No contexto
social, se você tem a APM, essa associação estaria ligando com a comunidade. Já
o Conselho Escolar possui representantes diretos desta comunidade. A escola,
inserida numa realidade social, precisa ter um vínculo a ponto de saber o que
esta realidade social tem que pode fazer
intersecção com o papel da Escola no movimento deste PPP. Esta participação por
parte de todos é preciso que todos os atores sintam-se acolhidos pelos espaços
escolares. O conceito de família mudou e a Escola precisa encarar isso,
enfrentar estas questões que são sociais e que também merecem espaço para
debates. Muitas vezes, os responsáveis
não conseguem acompanhar a vida escolar de seus filhos, por exemplo. Essa é uma
questão que compete a Escola encontrar mecanismos de comunicação que
possibilite estas trocas, caminhos que estejam de acordo com a clientela que
lida. Não é tarefa fácil, mas é importante este movimento que aproxime à
família da Escola.
De que maneira a educação colegiada
influencia a elaboração do PPP?
O PPP
precisa ser construído a partir do chão da Escola e isso implica que vários
muros que impedem a relação coletiva da Escola sejam derrubados. O PPP é um
grande guarda-chuva dentro da Escola porque tem de ser desdobrado em vários
planos de ensino de acordo com a quantidade de disciplinas que se ministra já
que é na sala de aula que o PPP se concretiza. Esse nível de coerência é muito
importante, sobretudo quando todas as disciplinas correlacionam-se
horizontalmente. A participação ativa de todos os professores, colabora com
visões diferenciadas. Esta visão de professor participante, permite a
coletivização das ações.
"Se a afirmação do ser humano é uma afirmação política, veja que aqui, o político não se identifica com o senso comum, político partidário, uma política de nós contra os outros. Estamos falando de política no sentido de convivência entre os sujeitos. Esta convivência com outros sujeitos pode acontecer de forma autoritária e ela pode ser de uma forma democrática.
A democracia então é muito além do que ter eleições, é muito mais do que simplesmente a voz do povo. É tudo isso, mas ela, em essência, como fundamento de princípio, envolve a convivência entre os sujeitos que se afirmam como tais. Então, veja, esta base, já nos dá condições para examinar com rigor tudo aquilo que diz respeito ao funcionamento dos órgãos coletivos, das instâncias coletivas porque a educação só se faz se ela for democrática. Se a criança só aprende se quiser, a primeira coisa que você tem que fazer é propiciar condições para que ela queira, se não, não adianta, não tem educação!
Propiciar condições para que ela queira é uma condição dialógica, democrática, por isso arriscada: você não tem certeza de que ela vai querer. Você tem de correr o risco de ela não querer.
Esta é a noção da democracia que as pessoas as vezes não entendem.
Por isso, o papel da Escola não é levar conhecimento simplesmente, ou mesmo, levar cultura. O papel principal da Escola é propiciar condições para que o aluno aprenda e claro, apresentando a cultura para que o aluno se aproprie dela.
Se este é o fundamento da Escola, como pode ser o fundamento das ações coletivas da Escola?
Primeiro, não podemos esquecer nunca: o mais importante da democracia na Escola não se faz nestes colegiado, não se faz na relação do professor com o diretor. O mais importante, aquilo que deve orientar tudo, senão não adianta administração nenhuma, é uma relação entre o educador, o educando, que precisa necessariamente ser uma relação de respeito à subjetividade do aluno e o aluno como sujeito, respeitando a subjetividade do professor. Isso é o que fundamenta!
Para que isso se fundamente, nós precisamos de uma série de atividades, uma série de disposições dentro da Escola. Uma delas, é que exista a participação de todos os envolvidos, porque nós estamos falando de democracia, nós estamos falando de direito a apropriação da cultura.
Então, o Conselho de Escola, o Conselho de Classe, as Reuniões de Pais, as Associações de Pais e Mestres, precisam se pautar em relações que não sejam incompatíveis com estas. Então não dá para pensar que você está numa instituição cujo paradigma é a democracia para que a criança se aproprie livremente do saber, você não pode, por exemplo, pautar as outras atividades dos professores, dos funcionários e de pais por relações que neguem isso.
O primeiro aspecto que determina o bom ou o mau funcionamento dos colegiados, ou melhor ainda, das instâncias coletivas de participação, é saber qual o objetivo da Escola."
(Vitor Paro - Professor Titular da Faculdade de Educação da USP)