quarta-feira, 28 de setembro de 2016

As relações entre visão de mundo e de natureza: a ciência e sua utilização para a vida sustentável

 Inicialmente, há que se dizer que a construção da Usina Hidrelétrica da Itaipu Binacional não significou apenas o desvio do Rio Paraná de seu curso natural, como também a inundação de extensas áreas florestais e agriculturáveis (lembrando que a economia paranaense baseia-se principalmente na produtividade agrícola). Além disso, no início da década de 1980, com o fechamento das comportas da barragem de Itaipu, as Sete Quedas (até então considerada a maior cachoeira do mundo em volume de água) foram sendo submergidas pouco a pouco, até que lentamente, deixaram de existir! (Para saber mais informações sobre isso, é possível pode-se acessar: http://pt.slideshare.net/elosteffens/as-sete-quedas-e-itaipu )



O nome “Itaipu” significa “pedra que canta”, forma pela qual os guaranis daquela região referiam-se a uma ilha, quase sempre submersa, que parecia medir forças com os barrancos, há poucos quilômetros da confluência entre do Rio Paraná com o Iguaçu.
Todavia, estudos científicos apontaram para aquele ponto um rendimento energético excepcional em virtude do longo cânion escavado pelo Rio Paraná.


 Cito os dados acima porque, se de um lado temos BANIWA falando do empirismo e subjetividade indígena, também o vemos afirmar em dado momento que “cada cultura tem forma própria de organizar, produzir, transmitir e aplicar conhecimentos sempre no plural.” (2006, p. 170). Desta forma,  quando falamos em sustentabilidade, não há como negar a influência indígena neste viés, já que a primazia desta prática se pauta no respeito à natureza. Mas, o grande desafio é: como uma nação pode tornar-se sustentável, depois de 500 anos de história estruturada em moldes capitalistas?
Para exemplificar: É possível impedir a expansão dos “Desertos Verdes” e suas formas de sedução econômica de lucros à curto prazo, conscientizando ecologicamente a população de que estes hábitos potencializam o fenômenos ligados à infertilidade do solo? Esta é uma das preocupações que assolam a comunidade remanescente de quilombos em Casca/ RS, conforme apontam estudos realizados por Laiz Wediggen e Paulo Sérgio da Silva.
A primeira vista, parece uma luta desigual, injusta.
Entretanto, a mesma ciência que propunha  a utilização da energia hidráulica para produção de luz elétrica, ou ainda, a plantação de pinus elliot ou acácia negra para contenção do fenômenos geofísicos, é a mesma que nos surge com sugestões de fontes  de energias alternativas (eólica, solar, biomassa, geotérmica, etc), que nos fala da reutilização de materiais considerados recicláveis, ou ainda, construções de usinas hidrelétricas com reduzidos níveis de impacto sócioambiental.
Neste sentido, o avanço das tecnologias e a simultaneidade das informações são de grande valia porque potencializam a disseminação destes conhecimentos e, estando a Escola socialmente incluída neste contexto, compete-nos enquanto professores, promover práticas com vias a compreender e praticar a sustentabilidade em nosso cotidiano escolar, habituá-la como uma premissa existencial, sejam em conversas informais quanto a importância de que cada ser humano faça a sua parte para o bem comum, seja realizando projetos maiores que englobem também as famílias dos alunos e a própria comunidade escolar nestes processos de conscientização.

REFERÊNCIAS


BANIWA. Gersem. A ciência e os conhecimentos tradicionais in O índio brasileiro: O que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Disponível em : https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1776550/mod_resource/content/1/Livro%20%20-%20O%20%C3%ADndio%20brasileiro%20O%20que%20voc%C3%AA%20precisa%20saber%20sobre%20os%20povos%20ind%C3%ADgenas%20no%20Brasil%20de%20hoje%20de%20Gersem%20Baniwa.pdf acessado em 28 de novembro de 2016.

WEDIGGEN. Laiz e SILVA, Paulo Sérgio da. Educação e respeito ao meio ambiente: a perspectiva emancipatória da educação na comunidade remascente de quilombos de Casca in PROEJA Quilombola. Disponível em https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1798236/mod_resource/content/1/Livro%20PROEJA%20Quilombola.pdf, acessado em 28 de novembro de 2016.


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Tempo e Espaço: concepções de professores, concepções de alunos



Não é novidade que as leituras abrangentes e significativas acerca das relações existentes entre tempo e espaço podem servir de valiosas referências quanto às didáticas de ensino, sobretudo, porque o próprio espaço escolar caracteriza-se pelo compartilhamento de experiências, primado nas relações interpessoais.
Desta forma, levar em consideração o universo infantil ou da adolescência, está longe da abdicação do rigor intelectual ou do valor do próprio conhecimento em si. Pelo contrário. É a garantia de que estes conhecimentos serão apropriados de forma significativa e portanto, interessante aos olhos de todos os envolvidos no processo, o que  COOPER denomina como “aprendizado ativo”.
Costumeiramente, encontramos alunos que afirmam não gostar da disciplina de História, visto que geralmente, os métodos de ensino não dizem respeito em nada ao cotidiano social com o qual convivem, tampouco, possui relações com o futuro. Sobre isso, COOPER afirma que, “se quisermos ajudar nossos alunos a se relacionarem ativamente com o passado, precisamos encontrar formas de ensiná-los, desde o começo, que iniciem o processo com eles e seus interesses, que envolvam uma “aprendizagem ativa” e pensamento histórico genuíno, mesmo que embrionário, de maneira crescentemente complexa”
É nesse contexto, que a história regional torna-se tão importante para a formação do aluno, visto que seu estudo torna este campo de estudo muito mais atraente na visão do adolescente e do jovem.
Na minha opinião, o grande diferencial das reflexões da autora se pauta em sua dedicação em traduzir teoria em prática, passando a elencar algumas sugestões de atividades escolares passíveis de realização, das quais, passo a citar algumas, sugerindo algumas adaptações, de acordo com o contexto regional de minha Escola:


* Tempo e mudanças nas vidas dos próprios alunos – Com o auxílio da família, os alunos produzem uma linha do tempo, considerando fatos importantes que ocorreram em sua vida, desde seu nascimento. Após esta fase, cada aluno produzirá um vídeo com depoimentos de seus pais, avós, tios, relatando histórias de sua infância, preferencialmente, ilustradas com fotos. Para finalizar, os vídeos serão reunidos numa coletânea, editados e exibidos para os colegas, finalizando com debates pertinentes ao fato de todos sermos seres que produzem sua própria história.



* Histórias sobre o passado mais distante – Como São Leopoldo possui o título de “berço da imigração alemã no Brasil”, muitos são os costumes, histórias e hábitos germânicos presentes nas famílias capilés. Sendo assim, aproveitar esta herança histórica sob a forma de elaboração de pesquisas com ancestrais, visitações ao Museu do Imigrante, ou ao Museu Visconde de São Leopoldo, ou a Museu do Trem, parecem ser ótimas formas de iniciar o trabalho com estas histórias. Para finalizar, pode-se pensar na produção de uma peça teatral que tenha como pano de fundo uma lenda germânica, ou ainda, a chegada dos primeiros imigrantes ao Vale do Rio dos Sinos.


Interpretações e reconstruções de histórias vivas - Infelizmente, nossa cidade ainda não dedica a devida importância à conservação arquitetônica das construções históricas que constituíram sua história. No entanto, ainda existem alguns exemplares remanescentes. Então, uma atividade que me parece interessante é comparar fotos antigos com fotos atuais destes mesmos lugares, tiradas sob o mesmo ângulo. Para tanto, cada aluno deverá pesquisar uma imagem antiga de São Leopoldo (podendo inclusive, utilizar-se do acervo familiar), localizar o mesmo lugar na atualidade e fotografar, ficando ao crivo do observador, identificar as diferenças entre o ontem e o hoje. Para fechar esta atividade, pode-se organizar uma exposição com estas fotos, tomando-se o cuidado de identificá-las segundo suas autorias.



 REFERÊNCIAS


COOPER, Hilary. Aprendendo e ensinando sobre o passado a crianças de 3 a 8 anos. Educar, Curitiba, v. Especial, p.171-190, 2006. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/educar/article/viewFile/5541/4055, acessado em 21 de setembro de 2016. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Comprovantes de Memórias Docente

Pensar a minha identidade como docente é rememorar diferentes fases, revisitar lembranças, por vezes felizes, outras nem tanto assim. Sempre gostei de fotografar, registrar situações envolvendo alunos e colegas de trabalho, justamente porque entendo que se tratam de registros que nos possibilitam revisitar a memória, reviver aquelas circunstâncias, reconhecer aqueles personagens que naquela dada situação, estavam conosco, naquele exato instante de nossa história.
Abaixo, para ilustrar o que afirmo, pode-se observar a foto de minha primeira turma de alunos: uma turma de terceira série, em uma escola rural de meu município, Coronel Vivida/PR. A esquerda, de amarelo, eu, nos idos dos 20 anos, vestindo, literalmente a camisa do Projeto de Educação que os vividenses conheciam como "Educar, plantando".

Minha primeira turma
Local: Comunidade de Palmeirinha, Coronel Vivida/ PR
Data: novembro/2000


Minha caminhada docente é dotada de vários "comprovantes físicos", como minhas aprovações nos concursos públicos para professora, meus diplomas e formaturas (seja no Magistério, depois, como Bacharel em Geografia e num segundo momento, como Licenciada em Geografia. Mais tarde, como Especialista em Gestão Escolar), minhas anotações nos diários de classe, cadernos de planejamentos de saídas a campo, etc.
Penso que justamente por ter iniciado a minha carreira trabalhando com projetos, jogos, atividades baseadas no construtivismo, minhas memórias são cheias de momentos de tentativas de aproximação dos alunos com a natureza, saídas a campo, experiências que extrapolam o espaço da sala de aula, promovendo a interação dos alunos com outros agentes sociais que estão à sua volta, como podemos observar na imagem abaixo.
Esta é minha turma de Terceira Série, no ano de 2003, quando nos envolvemos em um projeto sobre auto-estima. Na ocasião, encenamos a peça "Patinho Feio". Como foi o ano em que perdi meu pai, minha mãe se dedicou a fundo na confecção das roupas e máscaras que utilizamos na peça. Então, embora a fotografia esteja com baixíssima qualidade de resolução, é uma imagem muito especial para mim.
Já a imagem que segue, é de minha primeira turma de Terceira Série da EMEF Doutor Ulisses Guimarães, no ano de 2004, visitando a propriedade de um produtor rural do município.


Lembro que a organização desta visitação foi bem complicada porque ao comunicar a Secretaria de Educação do Município que esta atividade seria realizada em áreas com presença de cachoeiras e açudes, fez-se a exigência de que um bombeiro deveria nos acompanhar preventivamente, para caso de emergência. Então, excetuando a burocracia, acabaram indo dois deles nos acompanhar.
Em 2005, minha última turma no Paraná, ,foi mais que especial porque foi a primeira vez que eu trabalhava com turmas de Quarta Série. Então, eu me sentia super orgulhosa deles! Foi com eles que fiz minha primiera saída a campo "para longe". Levei-os até Vila Velha, em Ponta Grossa. Aliás também fiz questão de que tivessem uma formatura no final do ano, já que deixariam nossa Escola e passariam a estudar em outra. 

Se existe uma palavra que possa definir este período é "Saudade!" Justamente por este motivo, concordo plenamente com as palavras de LE GOFF (2003, apud FELIZARDO e SAMAIN, 2007, p. 214) quando afirma que: "a memória, como capacidade de conservar certas informações, recorre, em primeiro lugar, a um conjunto sobre o assunto. Remetemos à instigante proposta metodológica oferecida por funções psíquicas, graças às quais, o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, que ele representa como passadas."
Já 2006, formada em Geografia, minhas memórias deixam de ser paranaenses e passam a se aclimatar ao gauchismo de São Leopoldo. Até então, minha experiência como os primeiros anos do Ensino Fundamental é colocada à prova no trabalho com adolescentes. Que desafio!

Interessante é que FELIZARDO E SAMAIN (2007, p. 209) chamam a atenção para o fato de que "(...) são grandes as chances de a fotografia digital, não impressa, ao longo dos anos, ficar à deriva, fadada ao desaparecimento e com ela, a memória das pessoas que a fizeram e a inspiraram." Pois foi justamente aí que percebi que minhas fotografias entre 2007 e 2009, embora catalogadas e bem condicionadas em cd´s, perderam-se em sua grande maioria.
Embora eu tenha realizado várias saídas a campo ao longo destes dez anos que resido em São Leopoldo, cujas imagens poderiam reforçar a ideia de comprovantes de minha memória docente, optei pela imagem de uma das mais recentes, da  Escola em que me encontro trabalhando atualmente.
Em suas reflexões, FELIZARDO E SAMAIN (2007, p. 209) chamam a atenção de que "(...) o fato de poder visualizar momentaneamente as fotografias geradas num écran e a forma como as pessoas guardam essas imagens, ora no HD do computador, ora num cartão de memória, num CD ou DVD, todos sujeitos à falhas e erros de leitura, levantam questões preocupantes." Em partes, concordo com esta afirmação. Todavia, com o advento das redes sociais, tenho procurado utilizá-las como recursos pedagógicos, inclusive para armazenamento e registros das atividades que vamos realizando no transcorrer do ano letivo. Além desse recurso apresentar ótimo recurso de armazenagem, justamente por comportar grandes quantidades de fotografias, ainda permitem que a comunicação com os alunos, inclusive com aqueles que já não estão mais em nossa Escola. Penso que aí, resida sua maior importância enquanto forma de incrementação às didáticas de ensino.
























Uma memória organizada por fotos é uma possibilidade de aprendizagem

Acho que antes de mais nada, as fotografias, reorganizadas cronologicamente, apresentam-se como prova primeira de nossa trajetória, nos convidam à reflexão de como lidamos com aquelas circunstâncias ali expressas, em meio aos panoramas que nos cerceavam naquele momento, portanto, revisitamos as aprendizagens construídas a partir daquelas experiências que foram sendo acumuladas.n
Selecionando as fotografias que comporiam este trabalho, confesso que senti dificuldades, porque remexer as memórias, traz de volta sons, cheiros, alegrias, tristezas, enfim, não se limita apenas a uma questão motora. É antes de mais nada, um exercício emocional muito importante, seja para nos darmos por conta das construções que fomos fazendo em nossa caminhada pedagógica, seja para nos orgulhar de cada passo que fomos dando nesta jornada enquanto professores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Excetuando o fato de que as fotos ingressadas neste trabalho estão com a resoluções muito reduzidas, eu gostaria de ingressar muitos outros registros que possuo. Preciso registrar que, em se tratando e PEAD, foi a primeira tarefa que realmente adorei fazer, de verdade!
Sempre gostei de fotografias e de fotografar, e a julgar pela leitura e pelas reflexões que suscitaram, não me surpreendeu que tenha sido interessantíssimo a realização de cada detalhe que ora expus.


REFERÊNCIAS

FELIZARDO, Adair; SAMAIN, Etienne. A fotografia como objeto e recurso de memória. Discursos fotográficos. Londrina, v.3, n. 3. p. 205 -220, 2007. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1500/1246   , acessado em 28 de novembro de 2016.






             







quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Entre a desistência e o idealismo: o Professor

Não é novidade o descredenciamento social que a figura do professor vem sofrendo gradativamente, causa primeira que contribui para a “desistência da educação enquanto projeto de preparação de crianças e jovens para que encontrem o seu lugar no mundo adulto”, conforme aponta as reflexões sugeridas nos estudos de Murta.
Mas, e qual é o lugar do professor neste mesmo mundo? Será este mesmo de profissionais divididos entre cargas horárias excessivamente exaustivas devido aos baixos salários? Lugar de profissionais que diariamente, tentam resolver problemas disciplinares em meio a bombardeios de informações, renegando desgaste físico e emocional para não arcar com uma aposentadoria precoce (que lhe acarretaria perdas significativas de seu salário)? Lugar de profissionais que se sacrificam em prol da defesa utópica de seus idealismos, pois ainda concebem-se capazes de fazer a diferença?
Ainda dissertando sobre seu ponto de vista, Murta afirma que, “desistindo da realização do projeto educativo, os professores na verdade, estariam se demitindo de sua posição de educador e, em decorrência, renunciando ao ato educativo”.
No entanto, mais do que chamar a atenção para esta questão que por si, já é preocupante, é importante que as ponderações alastrem-se além do apontamentos de culpados e inocentes no processo educativo, sobretudo, porque este pauta-se em relações interpessoais e estas, vem sendo alvo de significativas mutações nos últimos anos.
É ponto pacífico em muitos estudos, nas mais diferentes áreas, que as mudanças sociais ocorridas principalmente após o advento das tecnologias e todas as suas facilidades, tem se refletido decisivamente na cultura e nos interesses das pessoas. Em meio a este cenário, novamente, a pressão por requalificação profissional recai sobre o professor, pois é sua obrigação contemplar os novos interesses do alunado, já que sobre ele, multiplicam-se as expectativas por parte de diretores, pais e dos próprios educandos.
Desta forma, avolumam-se as “hipóteses” na tentativa de justificar o sofrimento do professor. Porém, quase nada disso se traduz em termos de políticas públicas e educacionais com vias à prevenção, acompanhamento ou mesmo, no tratamento destes profissionais, dignos de respeito dada a importância social dos papeis que desempenham na sociedade.

Referências

MURTA, Cláudia. Magistério e sofrimento psíquico: Contribuição para uma leitura psicanalítica da Escola. Disponível em https://moodle.ufrgs.br/course/view.php?id=41728, acessado em 12 de setembro de 2016.