· A definição
do que é cultura perpassa por diversas áreas do conhecimento. Segundo as
reflexões de Clifford Geertz, não é frutífero considerar generalizadamente o
comportamento humano em categorias universais ou estratificar a visão do homem,
uma vez que a cultura é um conjunto de mecanismos que controlam o
comportamento, é produto histórico-social, onde o ser humano se individualiza
a partir de padrões.
RAFAEL, R. D.; RIBEIRO, L. A. Cultura e contracultura: Felinghetti. Criação e crítica: São Paulo, n.13, p.127-139, 2014
Os sistemas
de controle são transmitidos naturalmente, tendo como principais agentes a
linguagem e universos simbólicos.
Para Britto
García, existem três formas de manifestação de cultura:a cultura oficial
(oficialmente dominante), as subculturas (grupos minoritários, de margem e
periferia) e a contracultura.
A
contracultura se origina de uma subcultura, mas extrapola suas classificações e
campo de reinvidicações, chegando ao limite máximo de incompatibilidade. Não
nega a oficialidade, mas oferece uma alternativa ao mundo, paralela e
incompatível com as demais. Escapa à institucionalização. A contracultura é
avessa à normatividade. O tempo rompe com a linearidade histórica.
Em 1960, a
contracultura da “geração beat” objetivava a produção de uma poesia que
se articulasse diretamente com o que se poderia chamar de vida, em oposição a
uma tecnocracia do Estado e a uma gradual intelectualização das artes.
Em suas reflexões, Claudio Willer e Walter Benjamin, destacam que a contracultura
americana buscava a conciliação entre a justiça social e a liberdade individual,
entre a arte e a vida. Há
um afloramento da memória involuntária: a aura.
Perceber a
aura de uma coisa, significa dotá-la da capacidade de olhar, um fazer poético
sem programa, “fruto do encontro de mentes livres”. Uma proposta enriquecedora
de experiência, contrapondo a história progressista, linear e oficial.
A
contracultura contrapõe-se a tecnocracia, ao modelo daquilo que é estabelecido
como ordem, constituição e progresso, enfrenta batalhas com a esquerda
marxista. A desordem é o que lhe organiza e a desfiliação é seu paradigma. Suas questões são pensadas como que
constituídas por vidas baseadas no afeto, fora da normatividade da tradição.
(Aqui, podemos lançar traços comuns com a Escola Tradicional). Por se tratar de
um movimento de “expansão de consciência”, ou seja, por almejar a mudança
na vida de indivíduos contra a desumanização do capitalismo e a burocratização
do socialismo, buscavam engendrar uma liberdade de invenção de vida, mediadas
pela linguagem. A primeira coisa pra um poeta seria levar um tipo de vida que
não se comprometesse com o sistema.
A propagação
de uma escrita como apagamento ou como gesto de leitura impede a
institucionalização deste modo de fazer poético e em última estância, da vida.
A
contracultura, como tratada por Britto García, será então, aquilo que resiste
ao museu e à tradição e, principalmente, às lógicas autoritárias. Opera
semelhante às memórias subterrâneas: procedem em silêncio à subversão da
memória oficial. Um silêncio que
não é passividade, mas resistência, que não se dá no entanto como uma oposição
à cultura, mas sim, como uma incompatibilidade completa e absoluta aos seus
paradigmas. Se transmuta em esperança contra a era da ansiedade, preparação de
mundo para a libertação anárquica e o renascimento do maravilhoso.
REFERÊNCIAS
RAFAEL, R. D.; RIBEIRO, L. A. Cultura e contracultura: Felinghetti. Criação e crítica: São Paulo, n.13, p.127-139, 2014
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