segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cultura e Contracultura: Ferlinghetti (meus apontamentos)


·                            A definição do que é cultura perpassa por diversas áreas do conhecimento. Segundo as reflexões de Clifford Geertz, não é frutífero considerar generalizadamente o comportamento humano em categorias universais ou estratificar a visão do homem, uma vez que a cultura é um conjunto de mecanismos que controlam o comportamento, é produto histórico-social,  onde o ser humano se individualiza a partir de padrões. 
Os sistemas de controle são transmitidos naturalmente, tendo como principais agentes a linguagem e universos simbólicos.
Para Britto García, existem três formas de manifestação de cultura:a cultura oficial (oficialmente dominante), as subculturas (grupos minoritários, de margem e periferia) e a contracultura.
A contracultura se origina de uma subcultura, mas extrapola suas classificações e campo de reinvidicações, chegando ao limite máximo de incompatibilidade. Não nega a oficialidade, mas oferece uma alternativa ao mundo, paralela e incompatível com as demais. Escapa à institucionalização. A contracultura é avessa à normatividade. O tempo rompe com a linearidade histórica.

Em 1960, a contracultura da  “geração beat” objetivava a produção de uma poesia que se articulasse diretamente com o que se poderia chamar de vida, em oposição a uma tecnocracia do Estado e a uma gradual intelectualização das artes. Em suas reflexões, Claudio Willer e Walter Benjamin, destacam que a contracultura americana buscava a conciliação entre a justiça social e a liberdade individual, entre a arte e a vida. Há um afloramento da memória involuntária: a aura.
Perceber a aura de uma coisa, significa dotá-la da capacidade de olhar, um fazer poético sem programa, “fruto do encontro de mentes livres”. Uma proposta enriquecedora de experiência, contrapondo a história progressista, linear e oficial.

A contracultura contrapõe-se a tecnocracia, ao modelo daquilo que é estabelecido como ordem, constituição e progresso, enfrenta batalhas com a esquerda marxista. A desordem é o que lhe organiza e a desfiliação é seu paradigma. Suas questões são pensadas como que constituídas por vidas baseadas no afeto, fora da normatividade da tradição. (Aqui, podemos lançar traços comuns com a Escola Tradicional). Por se tratar de um movimento de “expansão de consciência”, ou seja,  por almejar a mudança na vida de indivíduos contra a desumanização do capitalismo e a burocratização do socialismo, buscavam engendrar uma liberdade de invenção de vida, mediadas pela linguagem. A primeira coisa pra um poeta seria levar um tipo de vida que não se comprometesse com o sistema.

A propagação de uma escrita como apagamento ou como gesto de leitura impede a institucionalização deste modo de fazer poético e em última estância, da vida.

A contracultura, como tratada por Britto García, será então, aquilo que resiste ao museu e à tradição e, principalmente, às lógicas autoritárias. Opera semelhante às memórias subterrâneas: procedem em silêncio à subversão da memória oficial. Um silêncio que não é passividade, mas resistência, que não se dá no entanto como uma oposição à cultura, mas sim, como uma incompatibilidade completa e absoluta aos seus paradigmas. Se transmuta em esperança contra a era da ansiedade, preparação de mundo para a libertação anárquica e o renascimento do maravilhoso.


      REFERÊNCIAS

RAFAEL, R. D.; RIBEIRO, L. A.  Cultura e contracultura: Felinghetti. Criação e crítica: São Paulo, n.13, p.127-139, 2014

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